Por CBTM
Jen-Hsun Huang, cofundador da Nvidia: "Briga pelo mercado de dispositivos móveis é a mais interessante do momento e quem não estiver nela ficará para trás"À sua maneira, a Nvidia é uma sobrevivente. Quando a companhia foi fundada na Califórnia, há 18 anos, pelo menos 70 outras empresas disputavam espaço no mesmo negócio - a fabricação de chips gráficos, processadores usados para exibir imagens e vídeos nos computadores. Hoje, a Nvidia é a maior companhia independente de um setor no qual compete com poucos rivais. A maioria dos concorrentes de outrora simplesmente desapareceu. Agora, a Nvidia tem outra missão difícil: consolidar-se como a principal fornecedora dos chips para smartphones e tablets, dois segmentos com projeções explosivas de vendas nos próximos anos. Para chegar a essa posição, no entanto, ela terá de enfrentar pretendentes de peso, como Texas Instruments, Qualcomm, Apple e a Intel, que está ingressando na área. "A briga pelo mercado de dispositivos móveis é a mais interessante do momento, a que todos querem assistir. Quem não estiver nela vai ficar para trás", diz Jen-Hsun Huang (pronuncia-se "djênsen"), cofundador e executivo-chefe da companhia, em entrevista exclusiva ao Valor, por videoconferência. Além da experiência, a Nvidia tem capacidade de investimento. No ano passado, a empresa obteve uma receita de US$ 3,5 bilhões. É uma quantia considerável, mas distante da de rivais como a Intel, que tem feito investimentos pesados na área e tem um faturamento 10 vezes maior do que o da Nvidia. Um dos processadores da Intel, o Atom, está presente em diversos tablets que chegarão ao mercado este ano. Para o segundo semestre, a companhia promete um novo componente para equipar telefones celulares. Para Huang, o sucesso nos smartphones e tablets não depende apenas da capacidade de investimento. "A tecnologia da Intel [x86] não é adequada para este mundo novo", diz o executivo. A Intel domina o mercado de computadores, mas os dispositivos móveis cresceram baseados em outro modelo, o da companhia britânica ARM, que desenvolve os chips, mas não os fabrica. Os projetos são comprados por fabricantes, que se responsabilizam pela produção. Os primeiros produtos com o processador para dispositivos móveis da Nvidia, o Tegra, chegaram ao mercado em 2009, com o tocador de música Zune HD, da Microsoft, e o celular M1, da Samsung. Em janeiro deste ano, durante a Consumer Electronics Show (CES), a fabricante anunciou a segunda geração da tecnologia. O chip está presente em equipamentos como o Xoom, da Motorola, e a linha de smartphones e tablets Optimus, da LG. Perguntado sobre outros produtos que podem chegar às prateleiras com o Tegra 2 este ano, Huang faz mistério. "Alguém fez um levantamento durante a CES e quase 80% dos tablets mostrados lá tinham a tecnologia", diz. Durante a CES foram apresentados mais de 100 aparelhos. Aos 47 anos, Huang é tido por muitos como um executivo de temperamento único no Vale do Silício. Nascido em Taiwan e criado nos Estados Unidos, Huang passou boa parte de sua juventude sem se interessar por computadores. Na adolescência, umas de suas atividades favoritas era jogar Tênis de Mesa. Seu primeiro emprego foi na rede de lanchonetes Dennys, concorrente do McDonalds. A carreira em tecnologia só começou nos tempos de universidade com o emprego de projetista de microprocessadores na AMD. Mais tarde, Huang ocupou diversos cargos na LSI Logic, de onde saiu para fundar a Nvidia, em 1993. O pulo do gato foi o investimento em uma tecnologia de processamento central de gráficos - a Graphics Processing Unit, ou GPU. O chip desempenha uma tarefa semelhante à do processador central de um computador (CPU), mas com função totalmente dedicada à exibição de vídeos e imagem. Desde que foi criada, a companhia vendeu 1 bilhão de processadores para as placas de vídeo GeForce. Se nos primeiros anos os produtos da Nvidia ficaram muito associados aos aficcionados por jogos eletrônicos, com o passar do tempo o leque foi se abrindo. Hoje, os chips são usados na edição profissional de vídeos e imagens e até em supercomputadores. Filmes como "Avatar" e "A Origem", ganhador do Oscar de efeitos visuais em 2011, foram produzidos com equipamentos da companhia. O computador mais rápido do mundo, o chinês Tianhe-1, também usa tecnologia da Nvidia. Do faturamento de 2010, praticamente metade dos recursos veio dessas áreas de uso profissional e supercomputação. Nos próximos anos, a expectativa é de que a área móvel tenha um peso crescente na companhia. "Estamos apenas no começo de uma revolução", diz Huang. Não bastasse todo esse movimento, em janeiro a companhia anunciou sua entrada no mercado de CPUs. Batizada de projeto Denver, a iniciativa está em fase de desenvolvimento e não tem data para chegar ao mercado. "O desenho de uma CPU demora quatro anos para ser concluído. Estamos trabalhando nisso há algum tempo".