Por CBTM
Quando Caroline Kumahara nasceu, no dia 27 de julho de 1995, Hugo Hoyama já colecionava sete dos nove ouros que o tornam o maior medalhista brasileiro em Jogos Pan-Americanos. Ontem à tarde, os dois mesatenistas reduziram a enorme distância que os separa aos dois extremos de uma mesa oficial. Com uma habilidade de fazer muita inveja a qualquer peladeiro de pingue-pongue metido a besta, eles bateram uma bolinha difícil de acompanhar com os olhos, durante a vistoria dos atletas da seleção brasileira da modalidade ao Maracanãzinho.
De hoje até sábado, o ginásio é palco da Copa Latinoamericana de Tênis de Mesa, que reúne os 24 melhores atletas latinos — 12 no masculino e 12 no feminino — dos três continentes. Caroline e Hugo, claro, são duas das atrações do evento, que começa às 17h, com entrada franca.
Na família Kumahara, em São Bernardo do Campo (SP), Caroline foi a única entre os cinco filhos a optar pela modalidade. Enquanto seus dois irmãos homens jogavam futsal, ela ingressou na escolinha de tênis de mesa, com apenas 9 anos. A timidez excessiva, que a deixa completamente sem graça diante de um simples pedido de entrevista, a paulista deixa de lado quando está com a raquete na mão direita.
Tristeza pelas raízes
Habilidade e desenvoltura precoce ajudaram Caroline a alcançar títulos de respeito. Recentemente, ela se sagrou campeã sub-16, no Aberto da Suécia, e venceu também a competição de duplas juvenis no Aberto da Itália. Com apenas 15 anos, é a mais jovem integrante da seleção brasileira adulta. O peso da responsabilidade não parece intimidar Caroline, que alia uma rotina pesada de treinos (com duas sessões técnicas, somando cinco horas, mais duas de musculação, de segunda a sexta) à vida de adolescente estudante do ensino médio:
— Minhas amigas na escola acham bem legal que eu viaje. Mas eu digo que, seja qual for o lugar, é sempre a mesma coisa: do ginásio para o hotel, do hotel para o ginásio. Não viajo para passear, mas para jogar.
Caroline leva tão a sério a carreira de mesatenista que não dá ouvidos até para a voz do coração.
— Não tenho namorado, não. Meu pai e meu técnico não deixam — brinca.
Além de Caroline, a seleção brasileira feminina será representada por Lygia Silva e Jéssica Yamada. Entre os homens, Hugo Hoyama, de 41 anos, é o veterano do trio, que também conta com Cazuo Matsumoto e Gustavo Tsuboi, este último, o melhor brasileiro no ranking mundial (119º).
Os principais adversários das equipes masculina e feminina são chineses naturalizados. Os dominicanos Lin Ju, bicampeão pan-americano (Santo Domingo-2003 e Rio-2007), e Wu Xue, tricampeã latinoamericana, são as atrações da ilha caribenha. Já a Argentina apresenta o “hermano” Liu Song, de 39 anos, atual número um das Américas.
— Na Rio-2007, o presidente da Odepa, Mario Vásquez Raña, reparou que, no pódio do tênis de mesa, dos oito medalhistas, sete eram chineses. Ele se queixou que aquilo era um campeonato chinês e abriu caminho para, há três anos, estarem proibidas novas naturalizações de atletas acima de 21 anos — explica o presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM), Alaor de Azevedo.
Esporte nacional chinês, o tênis de mesa, por aqui, caiu nas graças dos descendentes de japoneses, em especial no interior paulista. Numa seleção de uma Silva entre Hoyamas, Matsumotos, Tsubois, Yamadas e Kumaharas, a tragédia japonesa não poderia passar em branco. Cazuo, por exemplo, já reservou o fim de semana seguinte à competição para participar de uma campanha de arrecadação de donativos, em São Paulo. Hugo, por sua vez, relembra a tristeza familiar com as cenas que chocaram o mundo.
— Minha avó, Kanako, é de Kochi, no sul, mas ficou muito triste. Como várias outras vezes, o Japão vai se levantar.