Por CBTM
Gui Lin ainda confunde o “d” com o “t” e o “p” com “b”, tem alguma dificuldade nas palavras com “r” dobrado, mas, no geral, fala bem português. Ainda reclama do sotaque, embora concorde que, para um chinês, ela até que fala muito bem. Aos 17 anos, a chinesinha é a grande aposta brasileira no tênis de mesa para os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em outubro, e as Olimpíadas de Londres-2012.
Nascida em Nan Ning, uma cidade no sul da China, ela veio para o Brasil em 2006, a convite de um técnico chinês. Ao chegar em São Paulo, gostou e acabou ficando. Na época, tinha 12 anos. Longe da família e sem falar uma palavra sequer em português, ela acabou se acostumando ao jeito de ser do brasileiro.
--- Eu vim para o Brasil porque tinha curiosidade para saber como é o tênis de mesa nos outros países. Sou filha única mas, desde os 10 anos, morava em uma escola de esporte. Então, quando eu disse que vinha para cá, eles podem até não ter gostado, mas não disseram nada ----- conta a simpática Gui Lin, que ainda não recebeu a visita dos pais.
Naturalização perto do Pan
Até dois anos atrás, Gui Lin morava com a família de uma amiga do clube no qual treinava. Agora, vive no alojamento de uma escola em São Bernardo, mas não perdeu o vínculo:
--- Eles me “adotaram” e acho que dei muita sorte porque me dão muito carinho, me tratam como filha. Hoje, são a minha família no Brasil.
Gui Lin ainda não se naturalizou brasileira, mas já disputa algumas competições pelo país. Em março, ao lado de Caroline Kumahara, de 15 anos, conquistou a medalha de ouro no torneio de duplas, e o bronze no individual no Aberto de Jovens da Itália, competição que faz parte do Circuito Mundial Juvenil, um feito inédito para o tênis de mesa nacional.
Antes, já tinha assegurado o segundo lugar na categoria adulta do Safir International Open, na Suécia. Ela só pode se naturalizar quando completar 18 anos, dia 1º de outubro. Apesar do pouco tempo --- o Pan começa dia 14 --- Alaor Azevedo, presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM), acredita que ela integrará a equipe brasileira na competição:
--- Entraremos com o processo no dia em que ela fizer aniversário. Toda a documentação está pronta. Se enrolar, apelaremos às autoridades. Com certeza, ela é a melhor jogadora da América Latina e, com ela na equipe, podemos brigar por medalha no Pan.
--- A base que ela trouxe da China é muito forte, por isso, tem uma técnica muito apurada. O que falta ainda é ela entender que, aqui, a cobrança é diferente da China. Ela tem que aprender a valorizar mais as vitórias do que as derrotas --- completa Hugo Hoyama, que, este ano, pode conquistar seu décimo título pan-americano.
Gui Lin é mais uma entre os diversos mesatenistas chineses que jogam por outros países. Ao contrário da maioria de seus compatriotas, no entanto, ela não chegou pronta no Brasil e, por isso, é considerada até mais brasileira do que chinesa. Praticamente imbatíveis no esporte, eles buscam em outras nações o que dificilmente conseguiriam na China.
--- Chegar à seleção chinesa é muito difícil. Para entrar na equipe mirim, por exemplo, são mais de trezentos candidatos para quatro vagas --- conta ela.
No Pan-2007, no Rio, a quantidade de chineses jogando por países das Américas levou à intervenção da Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa). Desde então, para representar um outro país, o atleta até 15 anos tem que ficar três anos sem jogar; até 18, cinco anos parado; e, até 21, sete anos longe de competições.
--- É uma regra drástica mas, no Pan, dos oito finalistas, sete eram naturalizados. Parecia um campeonato chinês! --- afirma Alaor Azevedo.
Gui Lin é uma das atrações do XXI Aberto do Brasil de Tênis de Mesa, que começa hoje e vai até domingo no Maracanãzinho. Participam também Alemanha, Portugal, Cingapura e Romênia.
Ontem, ela foi um dos atletas brasileiros que estiveram na estação Carioca do metrô para o “Desafio do Saque”. A promoção, para divulgar o torneio, daria um carro a quem conseguisse rebater três saques seguidos de Hugo Hoyama. Ninguém conseguiu.