Por CBTM
Quarta-feira de uma noite quente de verão no Rio. Mesmo assim, pelo menos 20 pessoas estão há horas trancafiadas numa sala do Clube Hebraica, em Laranjeiras, sem qualquer ventilador.
O que soa como tortura, no entanto, é só diversão para os cerca de 50 alunos que vão até lá, semanalmente, jogar tênis de mesa. A mania que anda conquistando adeptos por aqui já fisgou muita gente mundo afora, principalmente
--- É um esporte olímpico, que exige disciplina e concentração --- diz o engenheiro Leonardo Bottini, um dos que treinam na Hebraica.
--- Além de tudo, é muito democrático. No tênis de mesa, é possível um homem de 40 anos vencer um jovem de 18.
A professora de língua japonesa Rosa Yoshiko, de 63 anos, é um exemplo disso.
Pelo menos duas vezes por semana, ela se dedica a dar raquetadas por horas seguidas, seja na Hebraica, seja na Associação Nikkei, no Cosme Velho, outro local que oferece aulas de Tênis de Mesa no Rio (mensalidades em torno de R$ 60). O esporte, que no início serviu como fisioterapia para a recuperação de um câncer de mama, virou coisa séria e ela dá banho em muito garotão desavisado com quem divide a mesa.
--- Tinha que me exercitar mas, no começo, não conseguia segurar a raquete por dez minutos. Mas fui treinando, treinando e agora chegou a minha vez --- comemora, recuperada.
Quando voltou de seu primeiro doutorado nos Estados Unidos, o físico Nami Svaiter estava bem acima de seu peso. Levou um puxão de orelhas do médico, que lhe recomendou exercícios. Foi quando ele começou a jogar tênis de mesa e, em pouco tempo, já estava 15 quilos mais magro. Hoje, o esporte continua sendo a única atividade física que ele pratica com regularidade.
Duas vezes por semana, Nami treina por uma hora e meia na Hebraica, com um personal trainner. Nos dias de treino, seus alunos de doutorado do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas já sabem: às 18h em ponto, é hora de dar tchau ao professor.
--- Eles sabem que o meu treino é sagrado --- afirma o professor. --- O tênis de mesa é o xadrez em movimento.
Contribui para a coordenação motora, para a concentração, a disciplina e o desenvolvimento de estratégia.
O personal trainner de Nami, Enoc Gomes, assina embaixo: --- Embora não pareça, é um esporte que exige muito treinamento e concentração, mas que não dá um resultado tão rápido quanto o de uma academia --- reconhece. --- Aqui, o treino se assemelha ao de corredores.
O atleta vai treinar um ano para melhorar milésimos de segundos.
Depois de três meses de treinos coletivos na Hebraica, o músico Leandro Caputti não resistiu e comprou sua própria mesa, oficial, instalada no playground de seu prédio, na Lagoa. Quando dá vontade, é só pegar o elevador e jogar. Alguns amigos, claro, estranharam sua nova aquisição. Mas ele não está nem aí: --- Como não temos a cultura do tênis de mesa, as pessoas acham engraçado.
Mas é o esporte mais popular na China e o segundo mais famoso no Japão --- explica. --- Para mim, é uma terapia. Tem gente que gosta de puxar ferro. Eu gosto de bater bolinha.
Mais do que aproximar amigos, o esporte aproxima gerações. A atual campeã carioca de intercolegiais, Kely Takenura, de 18 anos, tem a mesma treinadora desde que começou a jogar, aos 6 anos: sua avó, Hideco, de 57.
Duas vezes por semana, elas trabalham pesado entre 17h e 22h, num centro de treinamento montado pela família num salão de festas
--- Mais do que a competição, o legal são as amizades que a gente faz e a experiência que a gente adquire --- conta Kely, deixando escapar que também gosta da fama pelas vitórias alcançadas nos torneios amadores --- Sou popular no meio.
Criado no Reino Unido no século XIX, o tênis de mesa parecia ter caído no esquecimento por aqui ou virado coisa só de profissional.
Um dos nossos principais mesatenistas é Hugo Hoyama, que se tornou o maior medalhista de ouro do país em jogos pan-americanos, ultrapassando em uma as oito medalhas do nadador Gustavo Borges.