Por CBTM
Há um mito no esporte brasileiro de que a conquista da medalha olímpica pode fazer a vida de um atleta mudar da água para o vinho. Mas, passados alguns meses após a Olimpíada de Pequim, a realidade nacional é bem diferente.
A dupla Márcio/Fábio Luiz, do vôlei de praia, têm esta noção. A medalha de prata vencida na China criou expectativa nos jogadores de que as coisas poderiam melhorar. Contudo, ambos estão sem patrocínio desde os Jogos e vivem atualmente de premiações ganhas nos campeonatos que disputam.
--- Infelizmente essas coisas acontecem no Brasil. Ganhamos a medalha de prata, mas não fomos reconhecidos. Fica uma indignação muito grande da nossa parte --- lamentou Márcio, que a partir desta sexta-feira terá mais uma oportunidade de ganhar algum dinheiro, na abertura da terceira etapa do Circuito Brasileiro de vôlei de praia, em Curitiba.
O cearense criticou duramente a forma como as companhias selecionam os atletas para prestar apoio.
--- Há muita gente que aparece na mídia e que não ganha porcaria nenhuma, mas é bonitinho, é carismático, tem a bunda grande, botou silicone... Aí fica bonito. Salvos os grandes atletas, que são os verdadeiros ídolos, existem outros com patrocínio que pelo amor de Deus... --- disse.
Vale lembrar que a crise mundial fez com que empresas reduzissem gastos com marketing. Mas a perspectiva não só de Márcio, como a de muitos atletas do Brasil, é de que o suor derramado em torneios será insuficiente para melhorar de vida.
Até mesmo o campeão olímpico Cesar Cielo, atleta com maior evidência na mídia brasileira depois do ouro na natação nos Jogos de Pequim-2008, passa por dificuldades na busca por um patrocínio.
Apesar de não reclamar da fase atual --- com três fontes de renda, que proporcionam o maior salário da vida --- ele ainda busca um patrocinador exclusivo que ajude a bancar os gastos no próximo ciclo olímpico.
Mas a crise econômica mundial e o fato de morar nos Estados Unidos, de acordo com o velocista, estão sendo empecilhos. O objetivo mudou.
--- Mesmo que eu não feche com uma empresa pelo ciclo, mas consiga um contrato de um ano, o que importa agora é que a empresa se associe a mim como uma parceira, que entenda quando eu não posso deixar de treinar para participar de algum evento --- falou o atleta, que depois da Olimpíada de Pequim entrou em conflito com a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos ao dizer que o ouro foi mérito do esforço de sua família, e não pelo trabalho coletivo feito para a natação.
O panorama de desânimo das empresas em apoiar os demais medalhistas olímpicos brasileiros se estende aos demais competidores.
A judoca Ketleyn Quadros fez história na China ao ganhar a primeira medalha individual de uma mulher brasileira com o bronze na categoria leve. Nem isso foi suficiente para convencer alguma companhia. Atualmente ela recebe salário de seu clube, o Minas, e cogita até largar o esporte no ano que vem se continuar sem patrocínio.
Cielo e Ketleyn são dois dos inúmeros casos de atletas que sofrem para se manter. Veja no quadro abaixo a situação dos medalhados.