Por CBTM
A diversidade cultural do Brasil é condizente com suas dimensões continentais. Promover a integração entre os participantes das cinco Regiões do país é uma das grandes virtudes das Olimpíadas Escolares. Em sua edição de 2009, de 12 a 14 anos, que acontece em Poços de Caldas (MG), dois atletas novatos do Mato Grosso do Sul puderam interagir com diferentes culturas e apresentar um pouco dos seus costumes a participantes de outras 23 delegações. Janderson e Lia, dois índios de etnias diferentes, deixaram as suas aldeias, pela primeira vez, para disputar a maior competição escolar brasileira. Do Centro-Oeste ao Sul de Minas foram 22 horas de ônibus, quatro delas da aldeia até a capital, Campo Grande, tudo recompensado pela experiência inesquecível vivida pelos dois jovens. --- A matéria que eu mais gosto na escola é o português. Gosto de geografia também. As que eu menos gosto são o inglês e o terena, que são muito difíceis --- afirmou a jovem. --- Adoro correr. O esporte faz parte da minha vida. Participo de quase todas as modalidades esportivas, por isso disputo o hexatlo --- disse o jovem, que é ótimo com números. --- Matemática é a matéria que eu mais gosto. No hexatlo, a prova que eu mais gosto são os saltos. Tenho muitas dificuldades com o arremesso de peso. A dança da chuva, do sol e da colheita, dentre outras, continuam imperando no dia a dia das aldeias, uma vez que a atividade principal é a agrícola. A mandioca é o alimento principal, mas eles amam mesmo um bom churrasco. Todos falam o tupi guarani. No entanto, alguns costumes dessa cultura milenar vão desaparecendo, como o casamento encomendado, que já faz parte do passado.
Lia Oliveira de Souza, de 13 anos, uma Guarani-Kaiowá, e Janderson de Morais Santos, de 14, um Tereno, iniciaram suas disputas no pentatlo e hexatlo, neste sábado, dia 12, na pista de atletismo de Poços de Caldas.
Lia faz parte de um projeto coordenado por Antônio de Souza, mais conhecido como professor Toninho. Cerca de 50 crianças indígenas das aldeias Bororó e Jaguapiru, que treinam em um campo de futebol, fazem parte do projeto.
--- As aldeias ficam coladas uma na outra, em Dourados, perto da fronteira com o Paraguai, a 220 km da capital. Lá vivem 12 mil índios de três etnias, que dividem um espaço de terra de apenas 3.600 hectares de terra --- explicou Toninho, lembrando que mais uma atleta, chamada Mila, vai disputar as Olimpíadas Escolares em 2009, em Maringá e Londrina, em novembro, para atletas de 15 a 17 anos.
Lia se destacou na seletiva estadual, ficando em segundo lugar, resultado que carimbou o seu passaporte para disputar as Olimpíadas Escolares. Ela começou no atletismo no início deste ano e treina duas horas por dia.
A jovem estuda na Escola Municipal Indígena Tengatuí Marangatu, que significa lugar do saber eterno. Além das matérias como geografia, história e matemática, ela tem aulas ainda de quatro línguas diferentes: português, inglês, o guarani e a língua terena.
Os resultados de Lia nas duas primeira provas do pentatlo não foram expressivos, mas ela espera voltar a disputar as Olimpíadas Escolares em 2010. "As gurias são umas cavalonas, mas ano que vem eu venho de novo e quem sabe não consigo um resultado melhor", disse, esperançosa.
Janderson também não conseguiu destaque nas três provas que disputou na manhã deste sábado. Mas ele não abaixa a cabeça.
Apesar do contínuo crescimento da população urbana, a cultura indígena no Brasil se mantém de pé. Nas aldeias Bororó e Jaguapiru, ainda existem as matriarcas das famílias e as crianças vivem livres.
As Olimpíadas Escolares 2008 são fruto de uma parceria do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) com o Ministério do Esporte, com o apoio das Organizações Globo e a participação da Prefeitura Municipal de Poços de Caldas (MG).